terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Há muitas mudanças

   ...Há muitas mudanças.



   Tenho que saber lidar com elas.



   Sempre acreditei que os acontecimentos vêm ter connosco, ou seja, que o que tem que ser é.  Mais vale deixarmo-nos ir com a corrente dos acontecimentos que nos rodeiam. Ser espectadores atentos para que não escape nenhuma oportunidade de viver nem que seja um segundo de efémera felicidade.



   Somos empurrados na linha de montagem da nossa vida e fazemos o que temos que fazer, conhecemos quem temos que conhecer e vamos sentindo frio e calor, amor e alegria e risos e amigos nos sitios onde menos contávamos encontrá-los.



  Adoro a vida mesmo quando ela me trata mal como agora. Surpreende-me a cada instante.







   Sentei-me numa escada de uma porta verde igual a milhares de portas verdes em Lisboa. Com uma janelinha de vidro martelado e barras de ferro a aludir á Arte Nova.



   Acendo um cigarro e, de repente, penso em Fernando Pessoa com o seu bigodinho debaixo do nariz a escrever que fumava "pensativos cigarros".



   Puxo o fumo duas vezes seguidas, como faço sempre que acendo um e olho em volta. O sol de Dezembro faz-me cerrar os olhos, mas vejo tudo á minha volta: carros e gente, vozes que aumentam de volume quando se aproximam e diminuem lentamente enquanto se afastam.



   Calças azuis, calças pretas, e umas botas com tiras vão desfilando á frente dos meus olhos como se estivesse numa passagem de modelos de roupa usada.



  E telemóveis encostados aos ouvidos com portadores sérios a trabalhar ou miudas sorridentes a falar com uma amiga.







   Tenho que me encontrar.



   Houve uma altura em que eu sabia quem era, mas não gostava de mim.



   Criei uma pessoa simpática e prestável, muito culta e cuidadosa. Convicta das suas ideias que defendia com unhas e dentes. Nem sempre acertadas. Criei uma pessoa que estava sozinha, com medo de estar sozinha , e que cada vez se isolava mais, porque era normal estar sozinha.



   Agora tenho que me encontrar



   Perdi-me de mim.


   Acabei o cigarro.



  Levanto-me, sacudo as calças e vou á minha procura

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