segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Encruzilhadas

    Estou perdida. Sim, verdadeiramente perdida.
    Tenho a cabeça num redemoinho, uma corrente violenta que rodopia a uma velocidade estonteante em redor de um buraco negro.
     Ouvi num filme ou li num livro, já nem sei bem, que os cruzamentos têm um poder místico, que aí se concentram forças que não compreendemos. E nos cruzamentos da alma? Das decisões?
     Tenho muitas decisões a tomar. Sou senhora de mim mesma e, no entanto, sinto que não me obedeço completamente. Rodopio em ideias que não controlo. Racionalizo tudo para logo a seguir me encher de emoções que não concordam comigo.

     Fico ou vou?

     Faço finca-pé e continuo a lutar por aquilo que quero e amo ou mando tudo às urtigas e mato o meu lado mais forte, aquele que me mantém viva?

     Fico ou vou?

     Nada disto implica a minha condição de ser. Eu sou eu e cada vez estou mais próxima de me encontrar outra vez. Acordo e vou para o trabalho, ocupo-me de mim, faço coisas que gosto. Vou ao cinema, vejo exposições, leio livros.
     Ganhei o hábito de fazer bolos. Sim, bolos. De chocolate, laranja, iogurte. Vou tentar o de cerveja por curiosidade.
     Riu e choro quando tenho vontade. Não me escondo de mim. Janto às 11 da noite porque vi dois filmes de seguida e faço amor porque me anestesia o pensamento e sinto-me culpada. Por isso. Porque sim.

     Fico ou vou?

     Se fôr, não volto mais. Isto já decidi. Compro um bilhete de comboio e vou despida. Abandono as possibilidades e construo tudo de novo.
     Deixo metade de mim para trás. Levo uma caixinha dentro de mim disponível para ser enchida de coisas novas. Cores, pessoas, amigos, amores. Ruas e cheiros. Livros e quadros. Música.

     Fico ou vou?

     Se ficar tenho um mundo de possibilidades à minha frente: tenho bolos e chá e estudos, projectos para cumprir, amigos para jantar.
     É engraçado, disse durante quase 8 anos que não tinha amigos aqui. É mentira e peço desculpa. De repente, mal estava disponível, começaram a aparecer de todo o lado. Abro uma janela e aparece um, saio à rua e encontro outro. São como pequenos tesouros que alguém escondeu para mim e que agora tenho que guardar.
     Lisboa já não é solidão. É bonita e convidativa, é azul intenso e cor-de-rosa. É azulejos e varandas de ferro, feira de velharias e turistas a tirar fotos.

     Fico ou vou?

     Lisboa é também um espinho. Uma dor que não consigo disfarçar. Uma vontade de que o futuro seja diferente. A esperança de ser completa outra vez, de me encontrar, e assim, talvez, outra vez a amar.

     Fico ou vou?
    

1 comentário:

  1. Oh p'ra mim a dar opiniões :)

    Eu... Iria até dentro de mim e depois... Depois ficaria por aí, por aqui... Ficaria para o Mundo!

    I'm here...

    Abraços.

    Me*

    [2009-12-14 23:05 p.m.]

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