terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Estás bem?

  - Estás bem?

  Aí está uma pergunta que começo a detestar.

  Sei lá...Quando vem de alguém muito intimo, que nos conhece, que está realmente interessado em levar com uma seca de 2 horas e meia em que lhe conto tudo o que de bom ou de mau se passou comigo desde a ultima vez que a vi...Ok...é aceitável. A isso se chama amizade.
E tenho bons amigos que realmente querem saber se estou bem naquele determinado momento, se preciso de algo, se estou feliz.
 
  Mas, e quando vem via telemóvel? E quando quem pergunta não está realmente interessado em levar com a minha história recente e faz a pergunta só porque não sabe o que perguntar?

  Odeio a leviandade com que entra nos ouvidos das pessoas para se perguntar se estão bem, quando na realidade o unico propósito é aliviar um pouco a consciência ao demostrar uma preocupação que é inexistente.

  Isto não é amizade, é egoísmo...

 

 

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Já passou...

  Passei esta época natalícia a desejar que ela passasse depressa. E passou.
  Trabalhei que nem uma doida, fui ao cinema num dia, fiz um jantar em casa noutro. Tomei café com uma amiga.
  Fiz o meu horário na véspera e depois fui jantar a casa dos meus pais. Consoei bacalhau e polvo como se faz no Norte, comi aletria, e uvas passas e bebi Borba. Vi Transformers na TVI e adormeci a meio.
  Recebi uma mensagem de uma chamada não atendida e não liguei de volta. Porque não.
  Recebi mensagens de amigos a que não respondi. Porque sim.

  Já passou o Natal e com ele levou parte da mágoa.

  Agora já só falta a Passagem de Ano.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Há muitas mudanças

   ...Há muitas mudanças.



   Tenho que saber lidar com elas.



   Sempre acreditei que os acontecimentos vêm ter connosco, ou seja, que o que tem que ser é.  Mais vale deixarmo-nos ir com a corrente dos acontecimentos que nos rodeiam. Ser espectadores atentos para que não escape nenhuma oportunidade de viver nem que seja um segundo de efémera felicidade.



   Somos empurrados na linha de montagem da nossa vida e fazemos o que temos que fazer, conhecemos quem temos que conhecer e vamos sentindo frio e calor, amor e alegria e risos e amigos nos sitios onde menos contávamos encontrá-los.



  Adoro a vida mesmo quando ela me trata mal como agora. Surpreende-me a cada instante.







   Sentei-me numa escada de uma porta verde igual a milhares de portas verdes em Lisboa. Com uma janelinha de vidro martelado e barras de ferro a aludir á Arte Nova.



   Acendo um cigarro e, de repente, penso em Fernando Pessoa com o seu bigodinho debaixo do nariz a escrever que fumava "pensativos cigarros".



   Puxo o fumo duas vezes seguidas, como faço sempre que acendo um e olho em volta. O sol de Dezembro faz-me cerrar os olhos, mas vejo tudo á minha volta: carros e gente, vozes que aumentam de volume quando se aproximam e diminuem lentamente enquanto se afastam.



   Calças azuis, calças pretas, e umas botas com tiras vão desfilando á frente dos meus olhos como se estivesse numa passagem de modelos de roupa usada.



  E telemóveis encostados aos ouvidos com portadores sérios a trabalhar ou miudas sorridentes a falar com uma amiga.







   Tenho que me encontrar.



   Houve uma altura em que eu sabia quem era, mas não gostava de mim.



   Criei uma pessoa simpática e prestável, muito culta e cuidadosa. Convicta das suas ideias que defendia com unhas e dentes. Nem sempre acertadas. Criei uma pessoa que estava sozinha, com medo de estar sozinha , e que cada vez se isolava mais, porque era normal estar sozinha.



   Agora tenho que me encontrar



   Perdi-me de mim.


   Acabei o cigarro.



  Levanto-me, sacudo as calças e vou á minha procura

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O cíume

   Ontem perguntaram-me se eu era ciumenta.

   Não, respondi rapidamente, não sou ciumenta, acho que o cíume é estupido, uma consequência de sentimentos todos eles negativos: posse, falta de autoestima, inveja. Não tem nada a ver com amor. Já tive a minha dose de cíumentos, já tive quem me acusasse de não amar por não sentir cíume. E também já o senti.

  Agora estragaste tudo, disse ele com aquele sorriso de puto velho ao qual me estou a habituar lentamente. Estavas a ir tão bem... 

  Mas é verdade. Há alturas em que faço tudo errado e sinto tudo errado. Por muito que a minha cabeça me bombardeie com sinais de alerta, por mais que soem buzinas de alarme, sigo pelo caminho mais irracional, mais estupido e animalesco. Reduzo-me a um ser bestial que desprezo e quero aniquilar.

  Agora, fixo na retina o seu sorriso de puto velho. E é nele que vou buscar a razão. Não interessa o que sou, ou o que ele é. O importante é que neste momento ele é-me dirigido, mas não me pertence. É uma oferta do coração: estou aqui porque quero estar, agora. E durante o tempo que eu sorrir para ti, o meu sorriso é aquilo que tu vês, mas mais importante que tudo, é aquilo que eu sinto.

  

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Eros e Psique

Conta a lenda que dormia


Uma Princesa encantada

A quem só despertaria

Um Infante, que viria

De além do muro da estrada.



Ele tinha que, tentado,

Vencer o mal e o bem,

Antes que, já libertado,

Deixasse o caminho errado

Por o que à Princesa vem.



A Princesa Adormecida,

Se espera, dormindo espera,

Sonha em morte a sua vida,

E orna-lhe a fronte esquecida,

Verde, uma grinalda de hera.



Longe o Infante, esforçado,

Sem saber que intuito tem,

Rompe o caminho fadado,

Ele dela é ignorado,

Ela para ele é ninguém.



Mas cada um cumpre o Destino

Ela dormindo encantada,

Ele buscando-a sem tino

Pelo processo divino

Que faz existir a estrada.



E, se bem que seja obscuro

Tudo pela estrada fora,

E falso, ele vem seguro,

E vencendo estrada e muro,

Chega onde em sono ela mora,



E, inda tonto do que houvera,

À cabeça, em maresia,

Ergue a mão, e encontra hera,

E vê que ele mesmo era

A Princesa que dormia.



Fernando Pessoa

domingo, 13 de dezembro de 2009

Morre lentamente quem não viaja,


quem não lê, quem não ouve música,

quem destrói o seu amor próprio,

quem não se deixa ajudar.



Morre lentamente quem evita uma paixão,

quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is"

a um turbilhão de emoções indomáveis,

justamente as que resgatam brilho nos olhos,

sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.



Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da

Chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,

não perguntando sobre um assunto que desconhece

e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.



Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo

exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.

Estejamos vivos, então!



Pablo Neruda

sábado, 12 de dezembro de 2009

     Acho que de alguma forma as coisas estão a mudar. Já não quero uma série de coisas que antes queria e já não vejo com os mesmos olhos certas frases e atitudes. Não percebo as pessoas. E não percebo as atitudes que as pessoas têm.
     Claro que estou a generalizar, mas de certeza todos nós já assistimos a más opções tomadas de uma forma tão inconsciente que até faz tremer. Todos gostamos de facilidades, todos temos a tendência para seguir o caminho menos penoso. Ás vezes até tentamos mascará-lo de algo que é maior. Atribuimos-lhe um valor que ele não tem. E acreditamos.
     Mas, e quando isso põe em causa o que realmente temos e tem valor? Quanto vale uma fantasia?
     Neste momento eu fantasio. Estou a passear por encruzilhadas e vou sendo forçada a seguir o caminho mais fácil. Vejo o pote de ouro no fundo do precípicio e no entanto empurram-me constantemente pelo caminho de terra, pela segurança do caminho sinuoso que não me deixa antever o que fica no destino, só curvas e esquinas que tapam a paisagem seguinte, mas que é liso e sem pedras para tropeçar. E estou sempre a fantasiar. Sobre o que está a seguir, sobre a novidade que é ter um novo interesse, sobre o que é que me vai aparecer a seguir àquela esquina, a seguir àquele abraço.
     Sim, algo mudou em mim. Foi-me arrancada a esperança com frieza e indiferença. Fui impedida de sonhar os meus sonhos, de viver a vida que escolhi para mim.
     E agora vou, triste, mas serena, pelos caminhos que me obrigaram a ir. Sigo-te por opção, pelo caminho mais fácil, que não se cruza com o teu.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Murnau : Citygirl

    

  Nunca pensei que gostaria tanto de ver um filme mudo nesta altura da minha vida, mas a verdade é que a beleza encheu os meus olhos e, por momentos, deixei de pensar no presente. Durante todo o filme esqueci-me de mim.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009



LET'S MAKE BETTER MISTAKES TOMORROW...



Encruzilhadas

    Estou perdida. Sim, verdadeiramente perdida.
    Tenho a cabeça num redemoinho, uma corrente violenta que rodopia a uma velocidade estonteante em redor de um buraco negro.
     Ouvi num filme ou li num livro, já nem sei bem, que os cruzamentos têm um poder místico, que aí se concentram forças que não compreendemos. E nos cruzamentos da alma? Das decisões?
     Tenho muitas decisões a tomar. Sou senhora de mim mesma e, no entanto, sinto que não me obedeço completamente. Rodopio em ideias que não controlo. Racionalizo tudo para logo a seguir me encher de emoções que não concordam comigo.

     Fico ou vou?

     Faço finca-pé e continuo a lutar por aquilo que quero e amo ou mando tudo às urtigas e mato o meu lado mais forte, aquele que me mantém viva?

     Fico ou vou?

     Nada disto implica a minha condição de ser. Eu sou eu e cada vez estou mais próxima de me encontrar outra vez. Acordo e vou para o trabalho, ocupo-me de mim, faço coisas que gosto. Vou ao cinema, vejo exposições, leio livros.
     Ganhei o hábito de fazer bolos. Sim, bolos. De chocolate, laranja, iogurte. Vou tentar o de cerveja por curiosidade.
     Riu e choro quando tenho vontade. Não me escondo de mim. Janto às 11 da noite porque vi dois filmes de seguida e faço amor porque me anestesia o pensamento e sinto-me culpada. Por isso. Porque sim.

     Fico ou vou?

     Se fôr, não volto mais. Isto já decidi. Compro um bilhete de comboio e vou despida. Abandono as possibilidades e construo tudo de novo.
     Deixo metade de mim para trás. Levo uma caixinha dentro de mim disponível para ser enchida de coisas novas. Cores, pessoas, amigos, amores. Ruas e cheiros. Livros e quadros. Música.

     Fico ou vou?

     Se ficar tenho um mundo de possibilidades à minha frente: tenho bolos e chá e estudos, projectos para cumprir, amigos para jantar.
     É engraçado, disse durante quase 8 anos que não tinha amigos aqui. É mentira e peço desculpa. De repente, mal estava disponível, começaram a aparecer de todo o lado. Abro uma janela e aparece um, saio à rua e encontro outro. São como pequenos tesouros que alguém escondeu para mim e que agora tenho que guardar.
     Lisboa já não é solidão. É bonita e convidativa, é azul intenso e cor-de-rosa. É azulejos e varandas de ferro, feira de velharias e turistas a tirar fotos.

     Fico ou vou?

     Lisboa é também um espinho. Uma dor que não consigo disfarçar. Uma vontade de que o futuro seja diferente. A esperança de ser completa outra vez, de me encontrar, e assim, talvez, outra vez a amar.

     Fico ou vou?
    

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009




O mais difícil é seguir em frente quando não sabemos  o que nos espera, quando temos a certeza que seja o que for que está a nossa frente, bom ou mau, está por detrás da esquina, no final da escada. E daqui, não se vê nada a não ser incerteza e solidão.




quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A minha primeira imagem de Lisboa

A primeira sensação agradável que tenho de Lisboa é um tecto coberto de rosas.
Para terem uma ideia, pensem na imagem do American Beauty e tirem-lhe a ninfeta. Já está?
Ok.
Foi próximo do Dia de Todos os Santos português ou do Halloween importado, como preferirem...Fui ao Incógnito, ali para os lados de S.Bento, zona que agora estou a começar a conhecer bem, acompanhada por um grande amor. E ali estava: um tecto (talvez um pouco escurecido) todo, mas todo coberto de rosas!
Confesso que nas vezes que lá voltei nunca mais senti o que via como senti nessa noite. Talvez porque nunca mais lá voltei sozinha com esse amor, mas iamos sempre acompanhados de pessoas barulhentas ou bebedas. Talvez porque seja impossível ver a mesma coisa com o mesmo olhar duas vezes ou talvez porque já não sou a mesma e os meus olhos estão diferentes e ocupados com outras rosas.
Não sei. Mas estou certa de que aquele tecto coberto de rosas me vai fazer sorrir sempre, mesmo que tudo à volta seja feio, sempre que o rebuscar na minha memória, há-de aparecer um sorriso na minha cara.
Para mim, Lisboa há-de ser sempre um tecto coberto de rosas.