segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Dia de Sol




domingo, 17 de janeiro de 2010

Keats

   Hoje fui mais uma vez ao cinema. Fui ver Bright Star da Jane Campion e chorei. Quase duas horas de êxtase visual acompanhadas de uma história de amor e os poemas de Keats. Mais uma vez, a vida arrastou-me para olhar para ela. Mais uma vez, fui sacudida pelos ombros enquanto me gritavam aos ouvidos:

                                                                      OLHA!

                                                                      SENTE!

                                                                      VIVE!



A thing of beauty (Endymion)






A thing of beauty is a joy for ever:

Its lovliness increases; it will never

Pass into nothingness; but still will keep

A bower quiet for us, and a sleep

Full of sweet dreams, and health, and quiet breathing.

Therefore, on every morrow, are we wreathing

A flowery band to bind us to the earth,

Spite of despondence, of the inhuman dearth

Of noble natures, of the gloomy days,

Of all the unhealthy and o'er-darkn'd ways

Made for our searching: yes, in spite of all,

Some shape of beauty moves away the pall

From our dark spirits. Such the sun, the moon,

Trees old and young, sprouting a shady boon

For simple sheep; and such are daffodils

With the green world they live in; and clear rills

That for themselves a cooling covert make

'Gainst the hot season; the mid-forest brake,

Rich with a sprinkling of fair musk-rose blooms:

And such too is the grandeur of the dooms

We have imagined for the mighty dead;

An endless fountain of immortal drink,

Pouring unto us from the heaven's brink.



John Keats

(1795-1821)

O meu mundo


quarta-feira, 13 de janeiro de 2010



IF YOU ARE SO HAPPY,WHY DO YOU LOOK SO SAD?


segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

   Vou andando por entre as coisas.
   Desvio-me do que me magoa. Do que me desconforta.
   Caminho por entre as pessoas e ouço-lhes as vozes, mas não percebo a língua.
   Escondo-me em óculos escuros e tapo os ouvidos com música muito alta. Ólho para o que me rodeia e vejo tudo, só para não ver dentro de mim.
   Racionalizo a minha vida: isto é por causa disto, aquilo por causa daquilo. Estratifico sentimentos, catalógo ideias, divido desejos. Ponho etiquetas e arrumo tudo em caixas com avisos de FRÁGIL de ponta a ponta. NÃO MEXER!
   Por vezes, volto a rir às gargalhadas. Volto a sentir o toque de um homem. A partilhar segredos de sedução e desejo. A sentir pele contra pele e o bater de um peito encostado a mim. E aí, nesse instante, liberto-me e baixo a guarda e permito-me soltar a imaginação. Porque nada me pode magoar naquele instante. Estou protegida num abraço à minha dor.
   Estou farta de sentir que perdi alguma coisa pelo caminho, que houve algo que me escapou. Sentir que fiz o mais certo, mas não o mais correcto.
   Vou andando por entre as coisas com medo delas, porque já não sei vê-las com olhos inocentes, porque já não sei olhar para elas sem pensar em outra coisa.
  

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

João Negreiros

   Não consegui resistir.Encontrei palavras dolorosas de tão belas.Ideias que me fizeram parar e ler letra a letra para que não deixasse escapar nenhuma,para que todas entrassem em mim,na minha cabeça ,no meu sangue e se fixassem em todos os recantos que fazem de mim uma pessoa.
  


tu messias mais








se ninguém te quiser ouvir grita

escala um arranha-céus e diz tudo

até que as entranhas se esvaiam em acordeões

até que sejas impossível de ignorar

e se te baterem bate a mais portas

e se te baterem mais usa a testa como aríete e entra-lhes nos pensamentos

tu sabes que tens razão

tu tens sempre razão

tu vais salvar toda a gente de si própria

tu sabes o segredo que lhes vai mudar as vidas

tu és o sopro que lhes falta quando assobiam

o som da trombeta

o guizo do chapéu

o rasgo do papel

o mago da magia

o marco do correio

o pico do cume

a água do dromedário

tu vieste para ajudar

tu só queres ajudar

então porque não te deixam?

porque não te sopram carinho ao ouvido e te chamam nomes feios que tu sabes não serem da tua família nem da afastada

a sociedade também foi feita para ti

um bocadinho foi

um buraquinho foi

porque não te deixam entrar lá?

porque não te deixam estar lá?

querem-te à chuva e ao frio

sem amigos

sem calor

sem pão

sem sal

não te dão nem um naco da tua própria carne

nem a luz do teu quarto

nem o silêncio da tua mente

e tu aceitas?

e tu ficas-te?

e tu não protestas?

seu banana

seu falhado

seu funcionário sem sindicato

sua mulherzinha que nunca votou

sua criancinha que limpa o prato

seu homossexual não assumido

seu cão sem pulgas

seu cabrão sem cornos

seu tronco sem pau

seu pau mandado

seu arado sem terra

seu dinossauro radioactivo sem cidade japonesa

seu lamparina sem petróleo que foi inundar uma gaivota

seu cabeça sem capacho

seu diamante

seu bruto

seu papa-açorda

seu caramelo

seu lambe-cus

seu

seu

seu

seu és tu

seu és tu ouviste

seu é contigo

seu é para ti acorda

já é noite

já foi dia

amanhã vai ser tudo isso outra vez e tu estás ao relento

não tens onde ficar

não tens lugar na terra e ninguém to vai dar se não esgravatares

procura

pede

come

ataca

implora

arrasta-te

resvala

escorrega

assusta-os

ignora-os

tu sabes que tens razão

e a tua razão é respirar

se respiras tens direito à vida

se tens direito à vida tens direito a chorar

se tens direito a chorar tens direito a voz

se tens direito a voz tens direito a que te ouçam

se tens direito a que te ouçam tens direito a dizer algo que lhes mude as vidas

se tens direito a dizer algo a que lhes mude as vidas tens direito a mudar também a tua

não peças respeito

nasce respeitado

não implores por dignidade

apregoa a dignificação do Homem

não mendigues comida

acaba com a fome

não protejas os teus filhos

protege todos os filhos

não procures uma religião

faz o que um Deus bom faria

não ouças tudo o que te dizem

ouve todos os que falam

tens direito ao teu canto

e o teu canto é o de mudar tudo

tu podes mudar tudo

tu deves mudar tudo

tu sabes mudar tudo

repara nas pessoas e muda-as para melhor se elas quiserem

aproveita para ires melhorando também

dá-te como se fosses de borla

não peças nada em troca mas dá com um sorriso mais rasgado a quem te der um beijo no fim

não tenhas medo que te interpretem mal

aliás não tenhas medo que te interpretem

aliás não tenhas medo

guarda o melhor para os outros e o pior para ti

mas não sejas cruel contigo que és o único que tens

tens que ter noção do teu papel

e o teu papel é duro como se embrulhasse pregos ou cacos que não queremos nas mãos do senhor da recolha nem nos dentes do gato vadio

o que tu vais fazer agora porque é o único tempo que te pertence é mudar

mudar até que nada fica igual

até que esteja mesmo do agrado de todos

mas se por acaso no meio do teu percurso de conflito e mudança

no meio da tua jornada de luta pelo bem encontrares algo de profundamente belo

não lhe mexas

não lhe toques

pega numa cadeira de praia monta-a e senta-te calmamente a apreciar







João Negreiros,

in "a verdade dói e pode estar errada"

domingo, 3 de janeiro de 2010

Até parece mentira...

    Isto é estranho, muito estranho. Mas a verdade é que , de repente, acontecem-me coisas boas, muito boas. Quando penso que a minha vida está em baixo, enquanto faço o luto de um amor triste e tento sobreviver com os cacos que me restaram de uma relação despedaçada, acontecem-me constantemente coisas boas.
    Hoje conheci uma pessoa. Ou seja, tenho a certeza de que conheci uma amiga. Passei parte da manhã e toda a tarde a conversar e a aprender. Mexi em matérias que me eram estranhas há muitos anos, criei algo e deixei a imaginação voar. Esculpi e modelei. Intoxiquei-me com o cheiro a cola e mexi silicone como se não houvesse amanhã. Senti as texturas, os cheiros e ouvi a voz dela a traduzir-me um poema em espanhol duma musica que tocava no cd. Embalei-me nessa voz e deixei-me levar por ela.                 
     Garantidamente, qualquer pessoa conseguiria tudo de mim se mo tivesse pedido com aquela voz, naquele momento. Ri-me com vontade e vi fotos minhas tiradas no momento em que quase não me reconheci por parecer tão feliz.

    Passei o dia com alguém que é professora por paixão e amiga porque não sabe ser de outra maneira.
  

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

SWEET HAPPINESS COMES
IN SMALL DOSES !

Passagem de Ano

 Vesti um vestido que não é preto e senti-me linda.
Aprendi a dançar alguns passos de danças de salão: bolero e salsa. Dei um jeitinho na valsa e prometi que iria a um baile.
  Cantei até ficar rouca e hoje dói-me a garganta. Ri-me ás gargalhadas e senti-me feliz.
  Falei e dançei com quem não conhecia. Adorei a simpatia do C. e do outro de quem não sei o nome.
  Na verdade diverti-me tanto que nem dá para comparar com outras passagens de ano do meu passado recente.
  Fui testemunha de um amor bonito e complicado como todos os amores bonitos.

  Obrigada Cláudia e António, vocês nem imaginam o que significou para mim a noite que me proporcionaram.

A beleza em estado puro.

Três pessoas lindas;
Uma conversa despreocupada feita em duas línguas estrangeiras;
A liberdade de poder optar sentirmo-nos bem;
Velas a iluminar a sala;
Radiohead e Anna Domino;
A sensação de querer parar o momento:
A imagem que me vai ficar para sempre gravada na memória.

Assim foi o penúltimo dia daquele que considerei o pior ano da minha vida.
Fica-me a esperança de que este fim seja a promessa do que vai acontecer em 2010.

Obrigada.