segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

   Vou andando por entre as coisas.
   Desvio-me do que me magoa. Do que me desconforta.
   Caminho por entre as pessoas e ouço-lhes as vozes, mas não percebo a língua.
   Escondo-me em óculos escuros e tapo os ouvidos com música muito alta. Ólho para o que me rodeia e vejo tudo, só para não ver dentro de mim.
   Racionalizo a minha vida: isto é por causa disto, aquilo por causa daquilo. Estratifico sentimentos, catalógo ideias, divido desejos. Ponho etiquetas e arrumo tudo em caixas com avisos de FRÁGIL de ponta a ponta. NÃO MEXER!
   Por vezes, volto a rir às gargalhadas. Volto a sentir o toque de um homem. A partilhar segredos de sedução e desejo. A sentir pele contra pele e o bater de um peito encostado a mim. E aí, nesse instante, liberto-me e baixo a guarda e permito-me soltar a imaginação. Porque nada me pode magoar naquele instante. Estou protegida num abraço à minha dor.
   Estou farta de sentir que perdi alguma coisa pelo caminho, que houve algo que me escapou. Sentir que fiz o mais certo, mas não o mais correcto.
   Vou andando por entre as coisas com medo delas, porque já não sei vê-las com olhos inocentes, porque já não sei olhar para elas sem pensar em outra coisa.
  

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